Dois governadores — um fora da Bahia —, vários políticos de expressão, escritores, poetas, artistas plásticos, cientistas, empresários, uma heroína, craques de futebol. Feira de Santana tem uma rica história, com personagens importantes, da qual não se pode esquecer um ministro.
Feira de Santana tem uma história marcada por filhos e filhas ilustres que, ao longo desses 191 anos de existência, muito têm contribuído, em vários campos, para a consolidação de sua liderança regional e a manutenção do irrevogável título de Princesa do Sertão, como sabiamente proclamou, em março de 1916, a professora Mariana Carneiro de Souza. Intelectual, com um admirável currículo, Eduardo Matos Portela chegou ao Ministério da Educação, Cultura e Desportos e, numa incomum demonstração de fina educação — de quem sabe o seu valor, mas não se deslumbra com cargos —, afirmou, antes de se demitir, que apenas "estava Ministro", consciente da finitude do seu posto.
Filho da professora Diva Portela (Maria Diva Matos Portela), que lecionou Desenho e Economia Doméstica no curso ginasial e foi delegada escolar nesta cidade, e do comerciante de couro Henrique Portela, natural da Espanha, Eduardo, desde garoto, demonstrou especial interesse pelas letras. Estudante brilhante, cursou Direito em Recife, onde moravam dois tios, transferindo-se em seguida para o Rio de Janeiro, caminho natural para jovens que buscavam melhores oportunidades nas mais diferentes áreas, em especial no campo das Letras.
Muito jovem ainda, foi para a Espanha, terra do pai, onde não só estudou como também iniciou sua trajetória no magistério na Faculdade de Letras de Madrid. Voltando ao Brasil, permaneceu no Rio de Janeiro, onde atuou como Procurador Jurídico do Ministério da Educação e foi designado assessor especial da Casa Civil do presidente Juscelino Kubitschek. Com a criação do estado da Guanabara, na década de 1960, entre 1961 e 1964, Eduardo Portela foi chefe de gabinete da Secretaria de Educação e diretor-executivo do Instituto Brasileiro de Estudos Afro-Asiáticos.
Lecionou na Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro e foi diretor do Departamento de Cultura do Rio de Janeiro, ocupando posteriormente o mesmo cargo no Estado da Guanabara. Em 1979, honrado pelo convite do presidente João Figueiredo, tornou-se Ministro da Educação, Cultura e Desportos. Teve uma atuação dinâmica e favorável ao incremento das atividades educacionais e culturais no país, a partir do projeto "Educar para Desenvolver", mas foi prejudicado pela falta de verbas. Conforme se tornou público, a ideia do feirense contrariava o Ministro da Fazenda, Delfim Netto. Depois de um ano e oito meses no cargo, Eduardo Portela deixou o Ministério em 26 de novembro de 1980, quando formalizou de forma irrevogável o pedido de demissão. Afinal, como ele mesmo disse: “estava Ministro”.
Essa decisão não alterou o seu estilo de vida, mantendo-se como brilhante professor e ocupando ainda importantes cargos públicos, inclusive como presidente da Biblioteca Nacional. Portela escreveu cerca de 30 livros, foi crítico literário, criou a revista Tempo Brasileiro, foi membro de diversas academias de letras, aqui e fora do país, dentre elas a Europeia de Artes e Ciências, com sede em Paris, capital francesa, e escreveu para jornais e revistas de várias partes do país. Eduardo Matos Portela faleceu no Rio de Janeiro em 2 de maio de 2017, aos 84 anos de idade.