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LAMPIÃO DA FEIRA – DEIXOU UMA HISTÓRIA DIGNA DE UM BELO ROMANCE
Sempre trajado como cangaceiro e repetindo, com candura, a paternidade de uma apresentadora de televisão que, maldosamente, teria sido afastada del...
21/02/2025 09h57
Por: Redação Fonte: Prefeitura de Feira de Santana - BA

Sempre trajado como cangaceiro e repetindo, com candura, a paternidade de uma apresentadora de televisão que, maldosamente, teria sido afastada dele, Fidelis Marques dos Santos foi o Lampião da Feira, mas um homem de paz, extremamente diferente do verdadeiro Lampião (Virgolino Ferreira da Silva). Participou do filme “Foi Assim no Sertão” e teve um fim de vida triste, sem jamais poder realizar o sonho de se aproximar da estrela da TV que afirmava, veementemente, ser sua filha.

Tornou-se uma figura conhecida na cidade e até querida por muitos, principalmente aqueles mais sensíveis que o escutavam e lhe davam crédito. Lampião da Feira (Fidélis Marques dos Santos), natural de Jequié, mas feirense, como milhares de pessoas que chegam à cidade princesa e aqui ficam sob as graças de Senhora Santana. Meio violeiro, já que gostava de versejar com uma viola, foi para o Rio de Janeiro muito jovem em busca do futuro.

A construção civil abriu-lhe as portas, embora no fundo do coração circulasse outra arte: o cinema. E a oportunidade surgiu inesperadamente e até de forma hilária, como ele contava. Passava por determinado trecho da Cidade Maravilhosa e ficou sem entender nada. A rua estava fechada e uma multidão parada assistia a dois homens em luta corporal, desproporcional, já que um deles empunhava uma faca. Sem pensar duas vezes, entrou na briga, deu um empurrão no homem armado, tomando-lhe a ‘viana’ (peixeira), sob aplausos e risos do público.

“Tirem esse maluco daí, quem é esse doido? Vamos começar a cena de novo. Parem tudo!” Gritou um cidadão de camisa colorida que chegou correndo. Sem saber, Fidelis havia interrompido a tomada ou uma cena de um filme que retratava personagens do Nordeste e, enquanto um diretor reclamava, outro, ao vê-lo em ação, trajando chapéu de couro e gibão, chamou-o para conversar. Resultado: o baiano Fidelis Marques tornou-se ator, como sempre desejara, mas fazendo algumas pontas na película, representando um nordestino. Logo foi chamado ou batizado de ‘Lampião’.

Em plena forma, também atuou como mergulhador e, na praia de Botafogo, foi ‘fisgado’ por uma loura bonita. Com Zenilda, a vida virou um conto de fadas. Moraram em uma favela (na época, não existia a violência de hoje) e depois se mudaram para Niterói, já que ele estava trabalhando na Ponte Rio-Niterói. Mas aí começou o infortúnio: um acidente na obra valeu-lhe uma forte pancada na cabeça. Meio ‘desorientado’, parou em um hospital e, quando teve alta, foi ‘embarcado’ para a Bahia, para se recuperar, deixando a mulher Zenilda e a filinha Angélica.

Restabelecido fisicamente, mas ainda ‘meio desajustado da cabeça’, como ele mesmo contava, voltou para o Rio de Janeiro meses depois (ele não lembrava o tempo exato) para reencontrar a mulher e a filha. Uma luta inglória. Queixava-se sempre que foi vítima de um golpe. A mulher teria registrado a filha em outro cartório, além do que já fora, mas com o sobrenome de um cidadão estrangeiro, e nunca lhe foi franqueado o direito de ver a menina, que seria Angélica, a apresentadora de televisão. Várias vezes ele voltou ao Rio de Janeiro e fez tudo o que podia para se aproximar dela, sem êxito. Provavelmente, sua aparência, depois do acidente, e seu estado de desequilíbrio, tenham contribuído diretamente para isso. A família da mulher impedia a aproximação dele. Mas a história contada por Fidelis era absolutamente crível.

Radicado em Feira de Santana, ele participava de eventos folclóricos, rodas de samba e teve uma boa atuação no filme “Foi Assim no Sertão”, produzido pelo cineasta e ator Pedro Vieira, interpretando o papel do valente cangaceiro ‘Ouro Negro’. Vivendo só no bairro Campo Limpo, sem alimentação adequada e usando bebida alcoólica, na fantasia de um dia ainda poder ver a filha, o que não aconteceu, Lampião da Feira faleceu, deixando uma história digna de um romance, mas perfeitamente possível de ter sido verídica.

Por Zadir Marques Porto