A Universidade Estadual do Ceará (Uece) recebeu, do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), a carta-patente referente ao desenvolvimento de um fungicida natural para uso fitossanitário e farmacológico, que tem como matéria-prima extratos, óleo vegetal e óleo essencial de plantas. Como fitossanitário, é capaz de proteger plantações inteiras, de forma econômica e natural, dos fungos comuns no Nordeste. Esses fungos atingem centenas de espécies de plantas da região, sendo uma das mais acometidas, o cajueiro. A carta-patente referente ao novo fungicida natural é a terceira da Uece. A primeira carta-patente da instituição foi recebida em 2021 e a segunda, em 2022. O documento visa à proteção nacional das invenções.
“Trata-se de produtos bioativos que inibem a proliferação e o crescimento de fungos vetores de doenças em humanos e plantas. As formulações desenvolvidas por nosso grupo, e agora patenteadas, podem ser utilizadas no combate à podridão seca, doença provocada pelo Lasiodiplodia theobromae, caracterizada como peste que, no Nordeste, provoca sérios prejuízos à cultura do cajueiro, da acerola, coqueiro e muitas outras. No entanto, no início da nossa pesquisa direcionamos o nosso estudo para a erradicação da podridão seca que impacta sobremaneira a cajucultura, muito forte no Nordeste”, explica a pesquisadora Ana Lúcia Eufrázio Romão.
Além de Ana Lúcia, são também responsáveis pela invenção patenteada os pesquisadores Carlucio Roberto Alves e Katiany do Vale Abreu.
A patente envolve nove fórmulas obtidas a partir de três tipos de extratos da raiz do neem, óleo vegetal ou óleo essencial de eucalipto ou óleo essencial de cravo. As nove fórmulas têm atividades fitossanitarias e farmacológicas, principalmente frente aos fungos Lasiodiplodia theobromae, Candida albicans, Candida brasiliensis e Trichophyton rubrum.
O orientador da pesquisa, professor Carlucio Roberto Alves, destaca que o desenvolvimento desse fungicida natural “é resultado de estudos prospectivos para identificação de princípios ativos de recursos naturais e da formulação de um consórcio dessas moléculas, que potencializam a ação inibitória de crescimento de fungos”.
Ele ressalta o perigo do fungo Lasiodiplodia theobromae e a importância do novo fungicida natural em seu combate. “É um fungo muito resistente que contamina cerca de 500 espécies de plantas, causando prejuízos para a agricultura familiar e o agronegócio brasileiro. Esse fungicida, por ser um fitoquímico, possui algumas vantagens quando comparado a outros defensivos, como a baixa toxicidade, biosseletividade, ser biodegradável, etc”.
Sobre o nível de toxidade, Ana Lúcia salienta que muitos testes foram realizados, entre eles, com peixes e microcrustáceos. “Como é um produto natural, não impacta ambientalmente. Ele pode ser usado nessas culturas sem trazer prejuízos às plantas, aos animais ou ao ser humano, apresentando inibição do crescimento dos patógenos e fitopatógenos em até 100%. Durante o desenvolvimento desse produto, realizamos testes de ecotoxidade, não apresentando nenhum efeito negativo aos organismos”.
As formulações também apresentam vantagens econômicas, sendo necessário apenas uma porção de 5 a 10 ml para 1 litro de água para cada aplicação. Essa proporção garante a eficácia do produto e a segurança na utilização sem provocar efeitos nocivos.
Para o reitor em exercício da Uece, o vice-reitor, professor Dárcio Italo Alves Teixeira, “ a Uece está se consolidando cada vez mais em pesquisas na área da saúde, com a produção de medicamentos, vacinas, de demais estudos que levam as pesquisas ao mercado. Uma das formas de proteção das pesquisas é a patente junto ao Inpi e a reitoria da Uece apoia nossos pesquisadores junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial, sendo esta nossa terceira patente de muitas que ainda virão, tenho certeza”. Ele aponta ainda que a Agência de Inovação da Uece é um setor fundamental para que mais pesquisas da universidade sejam patenteadas, gerando e disseminando mais conhecimento científico.
As solicitações de patentes da Uece passam antes pela Agência de Inovação (Agin) da instituição, como explica o coordenador Jerffeson Souza. “A Agência de Inovação é o órgão que, não apenas incentiva, mas também organiza o desenvolvimento dessas tecnologias e a transferência delas para o mercado”. Sendo também responsável pela conquista, a Agência comemora. “A patente recebida demonstra o potencial da Universidade na produção de conhecimento, capaz de gerar valor para a sociedade”, finaliza o coordenador.
Agora, com a patente aprovada, os pesquisadores avaliam os próximos passos para tornar viável a comercialização do produto para o uso fitossanitário. Para viabilizar o produto voltado ao uso farmacológico, outros testes e procedimentos ainda deverão ser realizados.