Expandir o letramento racial de profissionais que atuam na educação básica, promovendo a formação de docentes e gestores de acordo com os marcos legais da Educação para as Relações Étnico-Raciais (Erer). Esse é o objetivo do curso de Aperfeiçoamento em Educação das Relações Étnico-Raciais: Afrobrasilidades e Africanidades na Educação Básica, iniciativa pioneira que envolve a Secretaria de Educação de Camaçari (Seduc) e a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), por meio do Campus dos Malês, localizado em São Francisco do Conde.
A aula inaugural ocorreu na manhã deste sábado (31). Camaçari foi a anfitriã do evento, unindo no espaço Recanto das Orquídeas, no Jardim Limoeiro, cerca de 1.000 professores, dos quais 300 atuam na rede municipal camaçariense. Os demais educadores eram oriundos de diversos municípios da Região Metropolitana de Salvador, do Recôncavo Baiano e de Feira de Santana. Ao todo, serão formados 1.200 docentes, em distintas áreas de atuação.
O prefeito Luiz Caetano destacou o alcance formativo da iniciativa. “Tem muito tempo que não participo de um encontro como esse. Olha o alcance desse momento, de cada profissional que está aqui. Nós temos que respeitar a inteligência de cada um, de cada uma, de forma igualitária. Não tenho dúvidas que saímos daqui hoje fortalecidos para enfrentar essa batalha do racismo. Vamos fazer a transformação”, ponderou.
“Momento histórico e muito importante para a educação municipal. Camaçari é um município que perdeu recursos por conta da falta de política antirracista, frisando que racismo é crime, bullying é outro debate. É preciso entender que não são só os professores, mas toda a comunidade escolar será beneficiada. Trazemos hoje para a sociedade um novo momento, de debate amplo, rico e transformador da nossa cidade, da nossa educação”, afirmou o secretário de Educação, Márcio Neves.
A vice-reitora da Unilab, Eliane Gonçalves, destacou que a grade curricular do curso cumpre a Lei 10.639, de 9 de janeiro de 2023, que estabelece a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira dentro das disciplinas que já fazem parte das grades curriculares dos ensinos fundamental e médio, e, também, estabelece o dia 20 de novembro como Dia da Consciência Negra no calendário escolar.
“Esse curso já vem sendo organizado há cerca de um ano e vai tratar dos quatro campos de conhecimento, de fundamentos da educação para as relações étnico-raciais, discutir o racismo e como a gente pensa uma sociedade antirracista, questões de linguagem, pensando principalmente nas políticas linguísticas, linguagem popular, a cultura afro-brasileira e africana. Esse é o maior curso do Ministério da Educação, o MEC, no Brasil, e que vai formar profissionais em sete cidades, sendo o maior número de docentes concentrados aqui em Camaçari, por isso que a gente está aqui hoje, consolidando esse primeiro momento”, explicou Eliane.
Ao longo do processo formativo, serão desenvolvidos projetos de ensino, pesquisa e de extensão que promovam a valorização da identidade afro-brasileira, a descolonização dos saberes e os estudos africanos na educação básica.
Maria de Fátima Cardoso, assessora técnica de Políticas Educacionais para Educação das Relações Étnico-raciais e Antirracistas da Seduc, enfatizou a garantia dos direitos básicos, a liberdade e o respeito às diferenças.
“Estamos começando mais uma força-tarefa, no sentido de garantir não só a legislação nas práticas pedagógicas, mas também abarcar a questão humanitária, o respeito às diferenças. Esse curso tem um viés de respeito aos direitos humanos, é uma oportunidade de conhecimento que cada professor irá adquirir e, sobretudo, aplicar nas trocas de experiências pedagógicas. Estamos todos empenhados nessa que é uma luta de toda a sociedade”, pontuou Maria de Fátima.
A formação completa terá 180 horas de aulas, ministradas em formato híbrido. Quinzenalmente, aos sábados, os encontros serão presenciais, intercalados por atividades online.
A pedagoga e professora de Língua Portuguesa, Iane Araújo, 35 anos, contou que já desenvolve um projeto na Escola Maclina Maria da Glória, localizada em Vila de Abrantes. Para ela, a formação chega para somar de forma interdisciplinar, envolvendo toda categoria, nos diferentes níveis da educação básica.
“Eu já faço um trabalho com as minhas turmas, ligado a essa construção das relações étnico-raciais, por meio da literatura afro-brasileira. Porém, esse curso vem para abraçar mais ainda esse projeto nas nossas escolas. Antes, a gente se via um pouco perdido, o professor isolado fazendo esse trabalho na sala de aula solo. Agora, não temos só o curso de aperfeiçoamento, temos toda rede envolvida, com o intuito de desenvolver projetos mais sólidos na área das relações étnico-raciais”, pontuou Iane.
Ainda estiveram presentes na cerimônia a secretária de Promoção da Igualdade Racial da Bahia (Sepromi), Ângela Guimarães; a diretora pedagógica da Seduc de Camaçari, professora Alexandra Pereira Silva; o diretor em exercício do Campus dos Malês, professor Pedro Acosta Leyva; a coordenadora do Curso de Educação para as Relações Étnico-raciais, professora Carine Curinga de Matos; além de vereadores e autoridades municipais.
Foto: Juliano Sarraf
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